Tuesday, April 29, 2008

Carta sem registro

Desafiando todas as leis da física, me apaixonei por você. Parece até brincadeira, somos cada um o que o outro não quer. Mas eu quero. E agora? Me explica. Que nem eu consigo encontrar razão. Encontre pra mim as palavras que definam o que sinto por você , que já tentei me encaixar entre tantos padrões e nenhum me coube. Nenhum coube a nós e a esse amor pra lá de exótico. De longe algum desavisado pode nos achar um casal comum, mas só Deus sabe o quanto de transgressor há nele. Porque nem mesmo um casal somos. Somos amigos apenas. Mas isso é coisa à beça, porque quando a gente se encontra é sempre tudo tão completo, tão alegre, tão jovem e transviado como nós dois. Eu gosto de mulher, e você é homem. Você gosta de homem, e eu sou mulher. Somos o desencontro. Você é o símbolo daquilo que eu repudio e desejo em uma só pessoa. Tem corpo de homem e pele de mulher. Pegada de homem e beijo de mulher. Desejo de homem e entrega de mulher. Como resistir a essa androginia sua? Procuro explicações entre o céu e o inferno que tem sido meus dias. Remôo olhares e bandeiras pra ver se encontro uma pista. Hora ou outra me vem uma conclusão otimista, tão forte quanto um galho de goiabeira seca, tão duradoura quanto a areia que passa de um lado a outro da ampulheta. Logo caio em mim e percebo que meus pensamentos não passam de vertigem. Que teus objetivos vão de encontro aos meus. E isso acaba comigo. Preciso saber o que acontece entre nós. Se a brisa que bate em mim também te alcança. Se devo continuar ou te limar dos meus sonhos.

Sunday, April 27, 2008

Pianíssimo

Tenho sentido sede. Sentido meus pulmões sufocarem de excesso de ar. Preciso extravasar, jogar toda essa energia passional pra fora. Já que não há substância concreta que me sacie...pensei em buscar um alimento abstrato...e...do nada... uma velha amante volta e se faz presente: a música. De repente, num dia qualquer, tive a tarde mais fantástica de todos os tempos. Conheci Maria Josephine, pianista clássica, que adora Chopin e interpreta Francisco Mignone como ninguém. Ai se ela soubesse o bem que me fez naquela tarde. Minhas próprias lágrimas mataram minha sede. Pude me ver tocando aquelas teclas e sentindo minha dor escorrer pelos dedos até o piano, contaminando a música e podendo dividir minha dor com quem se emocionar comigo ao sentisse minha dor pela música que eu tocaria. Quero fazer o mundo entender minha dor. Compartilhá-la através da música. Matar minha sede. Extravasar todo esse sentimento que me afoga até quase matar. Preciso tocar piano.

Friday, April 25, 2008

Canção de amigo

E se fazer amigo
Pra ouvir mais de você
Saber dos seus caminhos
Por quem teu coração dispara
E se fazer amigo
Pra conhecer teus gostos
o que te desagrada
quem são teus inimigos
E se fazer amigo
pra tocar sempre em você
te fazer sorrir pra mim
ser apresentada aos teus sonhos

Mais um

Mais uma música
Para cantar minhas lembranças
Mais um amor
Pra treinar a confiança
Mais uma dor
Pra fazer poesia

Eu deusa de uns ... outros deuses de mim

E é sobre isso que eu queria entender. Qual o sentido do amor de mão única? Por que ele continua após tantas provas de que não deve mais? Do que ele se alimenta afinal?

“João amava Teresa que amava Raimundoque amava Maria que amava Joaquim que amava Lilique não amava ninguém.”
(Drummond)


Aqui sou Joaquim, mas confesso que me identifico mais com a quadrilha da música de Chico

“Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava PauloQue amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava DoraQue amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amavaCarlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava
a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha”
(Chico Buarque)

Aqui sou Carlos na última estrofe.

Também poderia amar a quadrilha..isso é estar na flor da idade, mas se Dora é perfeita, de que servem Lia, Lea, Juca, Pedro, Rita...?

Thursday, April 24, 2008

A um amigo

"Quando a gente conversa
Contando casos besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos

E eu nem sei que hora dizer
Me da um medo ( que medo )
É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano

É eu preciso dizer que eu te amo
Tanto
E ate o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado

Voce me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
e nessa novela eu não quero ser teu amigo

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano

Eu preciso dizer que eu te amo
Tanto

Eu ja nao sei se eu to me estorando
Ah, eu perco o sono
Lembrando em cada riso seu qualquer bandeira

Fechando e abrindo a geladeira a noite inteira

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano

E eu preciso dizer que eu te amo
Tanto

Quando a gente conversa
Contando casos besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos

Eu nao sei que hora dizer
Tenho medo

Que eu preciso dizer que te amo
Te ganhar ou perder sem engano

É que eu preciso dizer que eu te amo
Tanto

E ate o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado

Voce me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
e nessa novela eu não quero ser teu amigo

Que eu preciso dizer que te amo
Te ganhar ou perder sem engano..."

Wednesday, April 09, 2008

Ouro branco

Perdi os brincos que meu pai dera de presente à minha mãe.
Que tristeza profunda sinto, que revolta contra essa minha falta de zelo.
Um defeito nunca me incomodou tanto, esse meu desapego com as coisas, esse idéia de depois compro outro, depois alguém encontra e me devolve. Depois que nunca chega. Fico sem e esqueço.
Dessa vez é diferente. Nunca esquecerei que peguei sem pedir os brincos de minha mãe, dados pelo meu pai, e os perdi. Perdi meu pai, perdi minha mãe e os brincos.
E não é porque eram de ouro branco com pedrinhas semi-preciosas. É porque eram os brincos que meu pai deu à minha mãe.