Thursday, August 04, 2005

Lente cor-de-rosa

Deixa em paz a minha inocência
Que sem ela o mundo fica muito duro
Peço que tenha paciência
Se eu disser que as meninas são ninfas
E os meninos fazem coisas sem querer

Uma íris-teleobjetiva com filtro cor-de-rosa
Tenho no rosto, inata
Só enquadra as imagens de prazer
Captura o melhor de todo ser

Então me perdoa se tapo os ouvidos
É que não suporto essas palavras
Cruas da tua realidade
Verdade que não me pertence
Crueldade que só me chega rente

Não me penetra a mente
Não me perturba o sono
Não me contamina
Não me sinto dono

Deixa em paz a minha inocência
Que ela é inofensiva à tua saúde
Diferente da tua maldade
Que me fere e rasga a pele amiúde

Deixa em paz a minha inocência
Que sem ela enxergo pouco
Há poeira em todo canto
Há penumbra e um vagar louco

Fica aqui um desencanto
Se levarem minha prenda embora
Enche-me nos olhos pranto
O que acontece fora
Da minha lente otimista

O que seria de mim
Com os olhos e ouvidos nus?
Restar-me-ia a morte talvez
E procurar n' outro recanto luz?

Imploro que se afaste
Deixe por favor
Deixa em paz a minha inocência.