Saturday, June 21, 2014

Depois do encontro

Não acredito em amores sofisticados. O amor só se prova na simplicidade, no pé descalço, no meio da chuva, na lama, debaixo da marquise, ao relento, no chão. Ora, o amor precisa de remelas, de enjoos, de medos, de dentes sujos após o almoço. Fora isso é ilusão, porque não se pode fingir a perfeição por muito tempo, e nem é justo deixar, ao outro, que ame uma imagem de você melhorado. Há de se olhar de perto os pequenos defeitos, os trejeitos sem jeito, o lugar onde o talento acaba, amar cada limitação do outro da qual se possa ser um complemento, onde se possa ser um motivo para a sua própria existência na vida imperfeita do outro. Amar é estar nu. Deixar-se contemplar as vergonhas. E permitir que até os interstícios sejam esquadrinhados. Não pode haver entrega maior.

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